O cego que tudo vê

Alirio Seidler, 37 anos, comemora hoje 20 anos de serviços prestados no calçadão da Felipe Schmidt. Cego desde os sete anos, conta na palma de uma das mãos, as vezes que foi assaltado ou enganado. A estratégia é fácil: confiança no cliente.

- Eu apenas confio. Não tem como ser diferente - diz em tom de brincadeira.
Não consegue saber a diferença de uma nota de R$ 10 ou R$ 20 por exemplo. Distribui o dinheiro estrategicamente pela roupa para não ser furtado e não errar no troco. Caso se sinta ameaçado aciona o amigo e fiel escudeiro. - Temos um código. Quando ele sente que será enganado faz um sinal e imediatamente vou para avaliar a situação - explica Marcos Antônio Camargo, 55 anos, segurança de uma relojoaria em frente ao ponto de Seidler.

Natural de Águas Mornas mora atualmente em Florianópolis no bairro Coloninha com a esposa que também é cega. Pega o ônibus cedo de segunda à sexta-feira para o primeiro emprego do dia, seu ponto no calçadão. Em 1994 fez um curso de massagista na Associação dos Cegos e atualmente trabalha das 17h às 21h no Lira Tênis Clube.

Durante o expediente no calçadão canta alegremente e escuta rádio (ele diz para ficar atualizado). Conquista clientes todos os dias e possui os fixos. Como o casal de comerciantes Milton Schmidt, 44 e Rosimeri Santos, 28. Toda semana compram cartões para revender no estabelecimento que trabalham. - Ele nos conquistou com sua simpatia e seu profissionalismo. Não tem como comprar em outro local com um vendedor destes.